O céu do fim de tarde em São Paulo coberto de fumaça oriunda de queimadas na Amazônia — Foto: Edilson Dantas/Agência O GLOBO
A cidade de São Paulo foi coberta entre a manhã e a tarde de ontem por um grande volume de fumaça de queimadas ocorridas na Amazônia. O material particulado, que se desloca em massas de ar a grandes altitudes, chegou à capital paulista depois de viajar até a encosta dos Andes e voltar ao Brasil por circulação atmosférica que a empurrou de volta, entrando pelo Paraguai.
Segundo o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE), essa grande nuvem de material particulado e monóxido de carbono gerada pelas queimadas na Floresta Amazônica costuma fazer sempre esse trajeto. Para se tornar mais visível em São Paulo, porém, ela depende do tempo aberto e da estiagem na própria cidade, que facilitam sua percepção.
Segundo a cientista Karla Longo, do CPTEC, sistemas de simulação da atmosfera já previam há três dias que resíduos das queimadas amazônicas iriam chegar a São Paulo. Esse material, que compõe grande pluma de fumaça na América do Sul, não é novidade, e está presente na capital hoje em muito maior volume do que o da fumaça produzida por incêndios rurais no estado de São Paulo. Esses outros incêndios, controlados na semana passada, queimam um volume menor de biomassa, quando comparados aos da floresta no Norte.
— Isso é o que acontece todos os anos na Amazônia, dentro de uma certa variação — afirma Longo. — E isso agora não é fumaça do interior paulista. As pessoas em São Paulo estão respirando mesmo floresta amazônica queimada.
Imagens do sistema Modis dos satélites Aqua e Terra, da Nasa, sugerem que o maior volume da fumaça que passou por São Paulo hoje veio do Sul do Pará e da Bolívia, que concentram uma parte grande das queimadas agora.
O ano de 2024 teve o mês de agosto mais incendiário do país desde 2010 (ano de seca severa), mostram dados do Programa Queimadas do Inpe.
Céu apocalíptico
A fumaça amazônica fez o céu de São Paulo adquirir um tom apocalíptico no meio da tarde. Nos prédios mais altos do Centro, num dia limpo, é possível enxergar até a região do ABC, a cerca de 15 km. Hoje, no meio da tarde, só se via até a Mooca, a 5km, mesmo sem umidade ou nuvens de água presentes. A baixa visibilidade pode atrapalhar aeroportos, alerta o Inpe.
Curiosamente, as estações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) que medem a qualidade do ar na capital não estavam registrando uma poluição atmosférica especialmente intensa durante a tarde.
Sistema do Inpe mostra fumaça de queimadas da Amazônia indo até a encosta dos Andes e voltando ao Brasil pelo Paraguai — Foto: CPTEC/Inpe
A única estação que tinha níveis de material particulado em nível etiquetado como "muito ruim" era a do Pico do Jaraguá, a 1.135 metros de altitude. Esse dado é indício de que fumaça amazônica estava começando a afetar a qualidade do ar na capital começando pelas camadas mais altas, próximas às correntes de ar mais fortes.
— Uma das características que me chamaram à atenção para essa passagem da pluma sobre São Paulo é que boa parte dela está passando a 3.000 metros de altitude, na camada limite, mas está chegando poluente aqui em baixo também, e isso deve perdurar por mais dois dias pelo menos — diz Longo.
Poluição aprisionada
Segundo a cientista do Inpe, a piora deve ocorrer por três motivos. O primeiro deles é que parte da fumaça que trafega a grandes altitudes acaba descendo mesmo e contribui para agravar o ar respirado perto do solo.
O segundo é que, mesmo quando ela permanece em grandes altitudes, a fumaça oriunda da Amazônia dificulta a dispersão da poluição produzida no próprio município, por carros e indústrias no nível do solo.
O terceiro é que a circulação de ar no Atlântico agora não está favorecendo hoje a saída dessa fumaça pelo mar. Esse material particulado normalmente se dispersa pelo litoral, mas está agora viajando em círculos formando um vórtex sobre o estado que não dá sinais de perder força ainda.
A situação paradoxal de fumaça no alto da atmosfera com qualidade do ar relativamente controlada embaixo não deve durar muito.
A Cetesb afirma que hoje as condições locais em São Paulo são "desfavoráveis à dispersão dos poluentes" e alerta moradores da cidade para provável queda na qualidade do ar. Nesta tarde já era possível sentir odor de queimado em alguns bairros.
A estiagem também deve permanecer. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou São Paulo e o interior do Brasil em alerta de “perigo potencial” por baixa umidade (20% a 30%) e ondas de calor, com temperaturas em média 5°C acima da média para a região.
Fonte: O GLOBO
A cidade de São Paulo foi coberta entre a manhã e a tarde de ontem por um grande volume de fumaça de queimadas ocorridas na Amazônia. O material particulado, que se desloca em massas de ar a grandes altitudes, chegou à capital paulista depois de viajar até a encosta dos Andes e voltar ao Brasil por circulação atmosférica que a empurrou de volta, entrando pelo Paraguai.
Segundo o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE), essa grande nuvem de material particulado e monóxido de carbono gerada pelas queimadas na Floresta Amazônica costuma fazer sempre esse trajeto. Para se tornar mais visível em São Paulo, porém, ela depende do tempo aberto e da estiagem na própria cidade, que facilitam sua percepção.
Segundo a cientista Karla Longo, do CPTEC, sistemas de simulação da atmosfera já previam há três dias que resíduos das queimadas amazônicas iriam chegar a São Paulo. Esse material, que compõe grande pluma de fumaça na América do Sul, não é novidade, e está presente na capital hoje em muito maior volume do que o da fumaça produzida por incêndios rurais no estado de São Paulo. Esses outros incêndios, controlados na semana passada, queimam um volume menor de biomassa, quando comparados aos da floresta no Norte.
— Isso é o que acontece todos os anos na Amazônia, dentro de uma certa variação — afirma Longo. — E isso agora não é fumaça do interior paulista. As pessoas em São Paulo estão respirando mesmo floresta amazônica queimada.
Imagens do sistema Modis dos satélites Aqua e Terra, da Nasa, sugerem que o maior volume da fumaça que passou por São Paulo hoje veio do Sul do Pará e da Bolívia, que concentram uma parte grande das queimadas agora.
O ano de 2024 teve o mês de agosto mais incendiário do país desde 2010 (ano de seca severa), mostram dados do Programa Queimadas do Inpe.
Céu apocalíptico
A fumaça amazônica fez o céu de São Paulo adquirir um tom apocalíptico no meio da tarde. Nos prédios mais altos do Centro, num dia limpo, é possível enxergar até a região do ABC, a cerca de 15 km. Hoje, no meio da tarde, só se via até a Mooca, a 5km, mesmo sem umidade ou nuvens de água presentes. A baixa visibilidade pode atrapalhar aeroportos, alerta o Inpe.
Curiosamente, as estações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) que medem a qualidade do ar na capital não estavam registrando uma poluição atmosférica especialmente intensa durante a tarde.
Sistema do Inpe mostra fumaça de queimadas da Amazônia indo até a encosta dos Andes e voltando ao Brasil pelo Paraguai — Foto: CPTEC/Inpe
A única estação que tinha níveis de material particulado em nível etiquetado como "muito ruim" era a do Pico do Jaraguá, a 1.135 metros de altitude. Esse dado é indício de que fumaça amazônica estava começando a afetar a qualidade do ar na capital começando pelas camadas mais altas, próximas às correntes de ar mais fortes.
— Uma das características que me chamaram à atenção para essa passagem da pluma sobre São Paulo é que boa parte dela está passando a 3.000 metros de altitude, na camada limite, mas está chegando poluente aqui em baixo também, e isso deve perdurar por mais dois dias pelo menos — diz Longo.
Poluição aprisionada
Segundo a cientista do Inpe, a piora deve ocorrer por três motivos. O primeiro deles é que parte da fumaça que trafega a grandes altitudes acaba descendo mesmo e contribui para agravar o ar respirado perto do solo.
O segundo é que, mesmo quando ela permanece em grandes altitudes, a fumaça oriunda da Amazônia dificulta a dispersão da poluição produzida no próprio município, por carros e indústrias no nível do solo.
O terceiro é que a circulação de ar no Atlântico agora não está favorecendo hoje a saída dessa fumaça pelo mar. Esse material particulado normalmente se dispersa pelo litoral, mas está agora viajando em círculos formando um vórtex sobre o estado que não dá sinais de perder força ainda.
A situação paradoxal de fumaça no alto da atmosfera com qualidade do ar relativamente controlada embaixo não deve durar muito.
A Cetesb afirma que hoje as condições locais em São Paulo são "desfavoráveis à dispersão dos poluentes" e alerta moradores da cidade para provável queda na qualidade do ar. Nesta tarde já era possível sentir odor de queimado em alguns bairros.
A estiagem também deve permanecer. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou São Paulo e o interior do Brasil em alerta de “perigo potencial” por baixa umidade (20% a 30%) e ondas de calor, com temperaturas em média 5°C acima da média para a região.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários