Postura do ex-coach gerou reação entre aliados próximos do ex-mandatário, mas ele próprio, que cumpria agenda em Goiás, silenciou sobre o episódio

Pablo Marçal no debate do Flow — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

 Em mais um capítulo da relação conturbada entre Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-coach promoveu uma live na noite de segunda-feira em que disparou críticas para todos os lados. Nem o ex-mandatário foi poupado. Na transmissão aberta após um de seus assessores agredir com um soco o marqueteiro do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Duda Lima, no fim do debate do Flow, Marçal disse que Bolsonaro “virou as costas para o povo”.

O postulante também mirou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é o principal cabo eleitoral de Nunes. A postura do empresário gerou um contra-ataque, mas Bolsonaro, que cumpria agenda em Goiás, silenciou.

— Bolsonaro, você podia tomar um jeito e não virar as costas para o povo. Você não poderia fazer isso com a gente. A gente defendeu você. E você, até de conversa com Datena estava nessa semana. Não faz sentido fazer um negócio desse — disse Marçal.

O ex-coach afirmou ainda que Bolsonaro seria aliado do presidente do PSD, Gilberto Kassab, e do ex-governador João Doria, ambos desafetos do capitão, além de Rodrigo Garcia, que também geriu o Executivo estadual paulista. Marçal disse ainda que Bolsonaro está “aliado com caras que apoiam o Lula”.

Na sequência, o candidato do PRTB mirou o governador Tarcísio de Freitas, a quem apelidou de “goiabinha”, em referência ao verde por fora e vermelho por dentro. O apelido remete ao termo pejorativo “melancia”, usado para se referir a militares, especialmente, por bolsonaristas.

— Governador Tarcísio, você é um cara correto, como que você está se curvando para um cara que está na máfia das creches e com todo vínculo com o PCC? Falar em propaganda é fácil, quero ver me peitar pessoalmente — provocou Marçal.

'Agressão covarde'

Após as declarações, o PL, que indicou o coronel Ricardo Mello Araújo como vice na chapa de Nunes para a campanha à reeleição, publicou nota ontem em repúdio ao soco desferido pelo videomaker Nahuel Medina contra o publicitário durante o debate. O partido classificou a ação como “agressão covarde", e pede rigor na apuração:

“Repudiamos veementemente qualquer forma de violência, especialmente em um ambiente democrático, onde o diálogo e o respeito devem prevalecer. Esperamos que as autoridades competentes apurem o caso com rigor, preservando a integridade e a civilidade no processo eleitoral”, escreveu a legenda na nota publicada em seu perfil do Instagram.

Mello Araújo afirmou à CNN Brasil que o episódio foi premeditado.

— Tenho acompanhado os debates e, o que eu vi, foi um show de horror, um teatro planejado. Como policial, consigo observar isso — disse o candidato a vice.

Mais cedo, o vice na chapa de Nunes disse em sabatina na Rádio Trianon não temer agressões porque “ladrão não mexe com polícia”:

“Gente que já se envolveu com o crime não quer encrenca com polícia”.

O governador Tarcísio de Freitas também se manifestou sobre a agressão na mesma plataforma, considerando o episódio como uma “baixaria” e afirmando que a agressão foi “lamentável”.

“Não dá mais para tolerar o que está acontecendo nessa campanha. Onde está o respeito ao eleitor que todo candidato precisa ter? Cadê o respeito à democracia que quem quer ser gestor precisa mostrar? Aonde vamos parar com tanta baixaria?”, escreveu.

Ex-chefe da Secretaria de Comunicação do govermo Bolsonaro e advogado do ex-presidenre, Fábio Wajngarten ironizou o assessor de Marçal, chamando-o nas redes de “machão”:

“Machão bateu quando a vítima estava despreparada e olhando para baixo. Para piorar sai correndo”.

Silêncio e café da manhã

Apesar da mira de Marçal direcionada para seus aliados, Bolsonaro decidiu manter silêncio diante da agressão ao marqueteiro de Nunes. O ex-presidente cumpriu agenda ontem de manhã no interior de Goiás. Em um vídeo publicado em suas redes sociais, ele aparece descontraído, enquanto toma café da manhã cercado por apoiadores no município de Alexânia, a quase 150 quilômetros de distância da capital.

Nas imagens, Bolsonaro aparece comendo pão de queijo e bebendo café com leite ao lado do Major Vitor Hugo, ex-deputado federal do PL e candidato a vereador de Goiânia.

(*estagiário sob supervisão de Cibelle Brito)


Fonte: O GLOBO