Balanços, melhora no apetite de risco global e ‘pouso suave’ da economia americana robustecem Bolsa brasileira; durante o dia, índice ultrapassou os 136 mil pontos
Sede da B3, em São Paulo — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo
O Ibovespa, que é o principal índice da Bolsa de São Paulo (B3) e referência do mercado de ações no Brasil, terminou o dia de ontem com um novo recorde. Depois de uma alta de 1,36%, fechou aos inéditos 135.778 pontos.
O novo recorde quase foi atingido na última quinta-feira, 15, quando o índice ficou a apenas 40 pontos do recorde anterior, de 134.193 pontos, registrado em 27 de dezembro do ano passado. Mas uma onda de otimismo com indicadores nacionais e internacionais levaram o Ibovespa à sua máxima histórica somente ontem.
No entanto, analistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que o índice pode continuar a subir e bater novos recordes nos próximos dias. Com a alta de ontem, o Ibovespa agora acumula valorização de 1,19% no ano.
Rumo aos 150.000 pontos
“Se o índice continuar marcando novas máximas ou fechar três pregões pelo menos acima dos 134.400 pontos, mostrará resiliência no movimento e os próximos objetivos estão em 137.000, 141.000 e 150.000 pontos”, afirmaram em relatório os analistas do Itaú BBA Fábio Perina, Lucas Piza e Igor Caixeta.
O dólar teve queda significativa e terminou o dia em R$ 5,41, o que é um dos fatores que também pode favorecer o desempenho da Bolsa daqui para frente, observou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos:
— Um ponto favorável para algumas ações brasileiras é a possibilidade de um câmbio mais valorizado, beneficiando empresas que dependem disso, como as aéreas. Por outro lado, muitas estão endividadas e precisam de sinais do nosso Banco Central sobre a manutenção dos juros ou pelo menos que eles não subam muito.
Levantamento da consultoria Elos Ayta aponta que, com o novo recorde, o Ibovespa acumula valorização de 113,6% desde a forte queda aos 63.569 pontos registrados em 23 de março de 2020, no início da pandemia.
Estados Unidos aliviam tensões
Para analistas, a alta de ontem advém de um cenário misto de aspectos positivos: as expectativas de que os Estados Unidos não caiam em recessão e que os juros lá serão reduzidos no mês que vem, assim como os resultados trimestrais positivos divulgados por empresas brasileiras.
— O principal catalisador é o apetite por risco lá fora, que aumentou nos últimos dois meses. É o fato de que o mercado está cada vez mais otimista com o cenário de que o Fed (Federal Reserve, o BC americano) vá cortar os juros em setembro — afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP.
A taxa básica dos EUA está hoje entre 5,25% e 5,5%, o maior patamar desde 2001, o que atrai investidores que não querem colocar dinheiro em mercados de maior risco.
Mudança nas projeções de indicadores por analistas — Foto: Editoria de Arte
Galípolo agradou
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações do BTG Pactual, lembra ainda que o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, vem reafirmando seu compromisso com o combate à inflação. Ele é visto como o mais cotado para assumir o comando da autoridade monetária no ano que vem, com o fim do mandato do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, em dezembro.
— Houve uma melhora de percepção de risco do Brasil, após o congelamento de R$ 15 bilhões, e mais recentemente do Banco Central. O (Gabriel) Galípolo, que tudo indica ser o próximo presidente (do BC), demonstrou uma visão mais dura de combate à inflação e comprometimento em convergir a inflação para a meta — diz Zanlorenzi.
Forte alta em papéis ligados ao consumo
A maior alta do Ibovespa foi a varejista de produtos para animais de estimação Petz, que saltou 23,87%, a R$ 4,67. Outros papéis ligados à economia interna também tiveram fortes ganhos, como o frigorífico Marfrig (13,19%, a R$ 14,59), a agência de turismo CVC (12,04%, a R$ 2,14) e a varejista Magalu (10,65%, a R$ 13,92).
Com relação aos juros futuros, a expectativa de que o BC eleve a taxa básica de juros (Selic), as taxas do Depósito Interfinanceiro (DI) nos contratos de curto prazo aumentaram, caindo nos de médio e longo prazo. A taxa DI para janeiro de 2025 avançou de 10,84% para 10,845%. Já aquela para janeiro de 2026, recuou de 11,635% para 11,58%, e a de janeiro de 2028, caiu de 11,505% para 11,385%.
— A política fiscal, que tende a impactar a ponta longa, é o que importa para os investidores. A mais curta é um ajuste sobre as falas mais duras de membros do BC nos últimos dias — diz Jennie Li, da XP.
Movimento global
Já o dólar comercial encerrou em queda de 1,03%, a R$ 5,41. É o menor patamar desde 24 de junho, quando encerrou a R$ 5,39. O movimento de desvalorização da moeda americana foi global.
— A desvalorização global do dólar vem da aposta no corte dos juros nos EUA — diz Camila Abdelmalack, economista-chefe na Vedhaa Investimentos, que cita ainda a avaliação de que o BC vai subir a Selic. — Isso gera uma expectativa de aumento no diferencial de juros (entre Brasil e EUA), atraindo capital estrangeiro com essa possível “gordura” de juros aqui.
Entenda os pontos do Ibovespa
O principal índice da B3 é medido em pontos, que equivalem a R$ 1 cada. Ele é composto, na teoria, pelo valor das ações e units (composto de mais de um tipo de ação) de 85 empresas escolhidas para sua composição, de diversos setores. A representatividade do papel deve ser relevante, sendo levado em conta alguns critérios:
ser negociada acima de R$ 1ter mais de 0,1% na movimentação total da B3estar presente em 95% dos pregões nos últimos doze mesesestar entre os ativos que façam parte dos 85% mais negociados de toda a Bolsa, ou seja, ser uma ação com alta liquidez (em que o interesse por venda e compra sejam maiores)O peso de cada empresa no índice é reequilibrado a cada quatro meses. Hoje, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras, juntas, somam 12,05% da composição do índice. Já a Vale, sozinha, possui 11,3% do peso no Ibovespa.
O Itaú Unibanco vem logo atrás, com 7,91% da totalidade, seguido do Bradesco, com suas ações preferenciais e ordinárias somando 4,34% da composição acionária do índice. Em seguida vem o Banco do Brasil, com 3,66% de peso.
Fonte: O GLOBO
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