A estratégia do empresário, em meio à desconfiança popular perante a política tradicional e as instituições, é se posicionar como um candidato que enfrenta o sistema que o persegue, ao mesmo tempo que se coloca ao lado do povo
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O influenciador Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, viu na decisão judicial que suspendeu suas redes sociais a cereja no bolo para inflamar a narrativa antissistema adotada desde o início da campanha.
A estratégia do empresário, em meio à desconfiança popular perante a política tradicional e as instituições, é se posicionar como um candidato que enfrenta o sistema que o persegue, ao mesmo tempo que se coloca ao lado do povo.
Marçal trata como parte desse sistema o poder Judiciário, a imprensa, seus adversários, como o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), padrinhos políticos e cabos eleitorais de seus oponentes, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e caciques partidários como Valdemar Costa Neto (PL). Como golpe final, o influenciador também posiciona o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), eleito na onda do sentimento antipolítica, como um líder que se dobrou ao sistema.
O empresário teve os perfis suspensos neste sábado (24), por decisão do juiz Antonio Maria Patiño Zorz, que entendeu que há indícios de que Marçal esteja cometendo abuso econômico ao promover com recompensas financeiras cortes de vídeos para as redes sociais produzidos por seus apoiadores.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o influenciador pode ter a candidatura cassada caso fique comprovado seu envolvimento nos pagamentos.
Marçal negou neste fim de semana que tenha oferecido dinheiro para este fim –o contrário do que afirmou em abril em entrevista ao canal do Youtube "AchismosTV". "Eu criei um campeonato de cortes (...) Quem tiver mais visualizações, eu pago em dinheiro. Tem garotos ganhando 400, 600 mil reais [por mês]", disse na ocasião.
Com a decisão judicial, o influenciador passou a se colocar como vítima de censura, conclamou os seguidores a defendê-lo e divulgou contas reservas, que no início deste domingo (25) já chegavam a 2 milhões de seguidores. A campanha foi rápida ao espalhar uma imagem de Marçal com a boca tampada por uma fita com a palavra "sistema".
"As evidências de uma perseguição sistemática e sem precedentes estão se acumulando rapidamente", diz nota compartilhada pela assessoria de imprensa do candidato no sábado.
O entorno de Marçal tem a expectativa de reverter a decisão com recurso –integrantes de outras campanhas também avaliam que a suspensão pode cair. Aliados do influenciador defendem ainda que a medida gerou um efeito contrário, mobilizando seus apoiadores frente ao que enxergam como uma injustiça. Nas redes, o empresário diz que a Justiça fez um favor e que ele será vitorioso no primeiro turno.
A decisão judicial veio em momento oportuno para que Marçal reforçasse a narrativa antissistema. Na última semana, o influenciador apontou que havia um conchavo entre Nunes, Boulos e José Luiz Datena (PSDB), que faltaram ao debate da revista Veja para fugir da agressividade do empresário. Logo depois, a família Bolsonaro abriu fogo contra Marçal, que disparou nas intenções de voto entre os bolsonaristas, ainda que o candidato oficial do ex-presidente seja o prefeito.
Foi a oportunidade perfeita para que o influenciador se colocasse como alvo de todos.
"Estamos fazendo campanha sem padrinho político, sem dinheiro público, sem tempo de televisão. Não quisemos vender nossa alma para nenhum outro partido, então não fizemos coligação. Não estamos devendo a ninguém. Nós estamos sozinhos, nós, o povo e Deus", disse Marçal no sábado.
O influenciador conseguiu inserir o ex-presidente na lógica do sistema, sem precisar atacá-lo diretamente. Assim, busca reduzir o risco de perder o eleitor bolsonarista, para o qual faz uma série de acenos. A mensagem, ainda que suavizada, é dura: Marçal sugere que Bolsonaro enfraqueceu e se dobrou à política partidária.
"Presidente Bolsonaro, você sabe o respeito que a gente tem e o tanto que sentia coragem no senhor de peitar todo mundo. Quebra essa palavra com o Valdemar Costa Neto. Valdemar não tem compromisso com aquilo que a gente defende. Quebra a palavra com esse sistema. Quebra esse acordo que é horrível para São Paulo e horrível para o Brasil", afirmou em vídeo.
Tarcísio de Freitas, principal cabo eleitoral de Nunes, também entrou na mira de Marçal, que pede para que ele não entre "nessa onda do sistema". "Senão vai ser seu fim isso aí", diz. Desde sábado, o influenciador tem questionado o que o governador foi fazer em Brasília.
Na quinta-feira (22), houve uma reunião na capital federal promovida pelo presidente do PP, Ciro Nogueira, com governadores de direita, entre eles Tarcísio, e caciques partidários como Valdemar e Antonio Rueda, presidente do União Brasil. Também estava lá o senador Flávio Bolsonaro (PL). Pessoas presentes na reunião afirmaram que Tarcísio e Rueda cobraram do filho do ex-presidente mais empenho da família pela reeleição de Nunes.
Segundo uma pessoa próxima a Bolsonaro, foi um pedido de Tarcísio, Ciro e Valdemar que fez com que ele ajustasse o discurso em menos de uma semana e passasse a criticar Marçal, a quem tinha elogiado. O governador já afirmou a aliados em diversas ocasiões que é preciso estancar o crescimento do autodenominado ex-coach.
No fim de semana houve ainda outras menções do influenciador ao sistema. Ele disse, por exemplo, que Nunes pediu ajuda ao presidente Lula para derrubá-lo. "Está ele, Bolsonaro, Lula, tudo do mesmo lado. Não estou entendendo nadinha do que está acontecendo."
Afirmou que "estão querendo até movimentar processo" para prendê-lo, em referência ao inquérito que o investiga por tentativa de homicídio envolvendo uma expedição falida ao pico dos Marins em condições climáticas adversas.
Marçal disse ainda que vai contratar uma equipe jornalística para produzir notícias. "Não confie nessa militância. Vou pagar pesquisas para mostrar a verdade", afirmou.
Em uma de suas publicações, usou uma passagem do final do filme "Tropa de Elite", com narração do ator Wagner Moura, que interpretava o capitão Nascimento: "O sistema é muito maior do que eu pensava (...) Para mudar as coisas vai demorar muito tempo. O sistema é foda".
Fonte: Notícias ao Minuto
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