Mais de 800 pessoas deixaram suas casas e as aulas na rede municipal foram suspensas na região

Em Ribeirão Preto, o fogo chegou a poucos metros de um condominio de casas de luxo e moradores tiveram que deixar seus lares — Foto: Thiago Callil/ AFP

Após o estado de São Paulo registrar o pior mês de agosto em número de focos de queimadas desde 1998, quando dados começaram a ser registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a crise ambiental se tornou visível nos céus de ao menos duas capitais. Brasília e Goiânia amanheceram ontem nubladas, com pouca visibilidade, encobertas pela fumaça. Com o crescimento do incêndio no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia, autoridades consideram o cenário preocupante e “atípico”, em grande parte provocado por atos criminosos. Por isso, a Polícia Federal já investiga a ação humana nos biomas.

O número de focos de incêndio registrados nos primeiros oito meses do ano (104.928), segundo o Inpe, é o maior desde 2010 (118 mil) e 75% acima do computado no mesmo período no ano passado (59.925 mil). Ainda de acordo com o instituto, agosto já é o mês de 2024 com mais focos de incêndio para 16 estados. Em São Paulo, foram registrados 3.480 pontos no mês, um recorde para o estado desde que os dados começaram a ser medidos, há quase três décadas. Minas Gerais também enfrenta incêndios, sobretudo no entorno de Belo Horizonte.

Na manhã de ontem, dezenas de cidades paulistas ainda enfrentavam as chamas. Ao todo, 48 municípios estão em alerta máximo, segundo o gabinete do governo do estado.

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se reuniram com funcionários do Ibama em Brasília para anunciar medidas. A PF já abriu 31 inquéritos entre Amazônia e Pantanal, e dois em São Paulo.

— É uma verdadeira guerra contra o fogo e criminalidade — disse Marina: — Tem uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de experiência nesses anos de trabalho com fogo.

A ministra lembrou o Dia do Fogo, cadeia de incêndios ocorridos no Pará em 2019, no governo de Jair Bolsonaro.

— Do mesmo jeito que nós tivemos o ‘dia do fogo’, há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo.

Na sala de monitoramento do Ibama, Lula também falou sobre as queimadas.

— A gente acaba de apagar o fogo, você vira as costas ele volta maior ainda. Aí, você apaga outra vez e ele volta outra vez — disse Lula.

Com a mobilização do governo, a PF, por meio da Superintendência Regional de São Paulo, irá investigar a temporada de fogo. Segundo Rodrigues, as investigações no estado irão apurar se houve uso de fogo criminoso que afetaram aeroportos no estado.


— É um movimento de fato atípico. São duas investigações em São Paulo que apuram incêndios criminosos que afetam áreas de interesse da União, os aeroportos — disse.

Em Brasília, a fumaça foi provocada, segundo o Corpo de Bombeiros do DF, pelas chamas de São Paulo, mas também do Pantanal e da Amazônia. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, porém, diz que queimadas no entorno, em região de Cerrado, podem ter contribuído.

— De maneira geral, a situação climática não ajuda. A umidade está baixíssima. Embora o desmatamento tenha caído bastante, há um estoque de áreas desmatadas ao longo da última década e as pessoas ateiam fogo para mantê-las assim — afirmou.

Agostinho solicitou à PF a investigação mais aprofundada de ações criminosas. Segundo ele, em São Paulo, há uma desconfiança de que houve uma organização, “pois os focos aconteceram praticamente no mesmo horário”. O presidente do Ibama ressaltou que o governo trabalha com número recorde de brigadistas: são mais de 2 mil pessoas trabalhando em todo o país. Ele afirmou ainda que a crise é uma das maiores e impede a recuperação de rios amazônicos que foram atingidos pela seca do ano passado, como o Madeira e o Tapajós.

Três são presos


Três homens foram presos acusados de causarem incêndios intencionais entre anteontem e ontem: dois em São Paulo e um em Goiás. Os casos são investigados pelas polícias locais.

Em São Paulo, uma prisão ocorreu ontem em São José do Rio Preto, de um homem que ateava fogo em um terreno. Outra prisão foi efetuada na manhã de ontem em Batatais. Neste último caso, o acusado tinha antecedentes criminais e portava gasolina no momento da prisão.

Já o caso de Goiás se trata de um homem preso em flagrante ateando fogo em pasto da propriedade rural na região de Piranhas, Goiás. Segundo a Polícia Militar, a situação era patrulhada há dias, com diversas ocorrências de incêndio criminoso em áreas de pastagem. O suspeito teria cometido crimes também nas regiões goianas de Caiapônia e Bom Jardim, no Sudoeste do estado. "O prejuízo causado é incalculável”, afirmou a Polícia Militar de Goiás.


(Colaboraram Carolina Callegari, Ana Flávia Pilar e Guilherme Queiroz).

Fonte: O GLOBO